Quem sou eu

Minha foto
Em 2009 fui diagnosticado com uma doença do neurônio motor (DNM) Trata-se de uma doença neuromuscular, progressiva, degenerativa e sem cura. Mesmo assim insisto que vale a pena viver e lutar para que pesquisas, tratamentos paliativos, novos tratamentos cheguem ao Brasil no tempo + breve possível, alem do respeito no cumprimento dos nossos direitos. .

31 de mai. de 2011

O Profeta de Tremembé

                             
O Grande Profeta, em sua existência atual na cidade de Tremembé


Por Antonio Jorge de Melo
Quando eu era bem criança, costumava ouvir com meu tio um programa na rádio Tupi do Rio chamado “Eu acredito no incrível”. Esse programa, conforme o nome sugeria, contava histórias arrepiantes de forma teatral  de pessoas que morriam e voltavam ao mundo dos vivos para os aterrorizar, e coisas do gênero.

Pois bem, no último domingo (dia 29/05) eram aproximadamente 22hs quando o telefone toca. Do outro lado da linha um cara falando coisa com coisa, e confesso que a minha ficha custou a cair até que eu me desse conta que era um amigão meu lá de Tremembé, o Rogério. O Rogério é desses caras que não sabe o que é mau humor ou tristeza. Ele até parece com o Michel Jackson, não pelo fato dele ser um negro que queria  ser branco, mas porque ele não quer ser adulto,quer continuar criança, que nem Peter Pan.

Acontece que o nosso contato por telefone é mínimo, até estranhei o fato dele ter me ligado. Ele disse que estava ligando porque tinha sonhado comigo. “Sai desse corpo Satanáz... essa vida não te pertence!!!”

Pois bem, depois que a gente conversou bastante abobrinhas e outros legumes, surgiu um papo de aposentadoria por invalidez. O Rogério já é aposentado a bastante tempo, por conta da Esclerose Múltipla e conhece bem o assunto, pois é desses caras fuçador, que fica metendo o bedelho aonde não é chamado.

Contei pra ele que eu havia feito uma perícia no dia 07/10/2010, e a perita não deixou marcada uma nova perícia em meu prontuário como é de praxe, simplesmente me disse para aguardar um contato do INSS, e enquanto isso eu continuaria no auxílio-doença. Aquilo estava me deixando preocupado, pois já se haviam passado quase 8 meses, e nada de notícia ou contato. O abelhudo  então me aconselhou a ir no INSS imediatamente, que eu não deveria esperar, mas que deveria solicitar a marcação de uma nova perícia.
Acatei sua orientação e ontem mesmo fui lá. Encontrei uma muralha na minha frente, uma funcionária tipo "maracujá de gaveta", tia do Matuzalem que me deu informações evasivas e pouco satisfatórias sobre o meu processo de aposentadoria, a indiferença e a antipatia estavam encarnadas ali bem diante de mim.

Não satisdfeito com o péssimo atendimento daquela funcionária fruta engruvinhada, fui até o setor do INSS que cuida do andamento dos processos, consegui uma agenda  p/ falar com o médico responsável pelo setor naquele mesmo dia. Cheguei lá, e logo ele me atendeu. A surpresa foi que já nos conhecíamos a uns 20 anos, pois durante algum tempo  o visitei como rep de algunmas empresas farmacêuticas. Enquamto eu batia papo com uma outra médica daquele mesmo setor tambem velha conhecida daquele saudoso tempo de representante farmacêutico, ele se dirigiu  até o seu computador, bateu uns negócios lá, voltou e  me entregou um documento dizendo que a minha aposentadoria estava deferida desde o dia 19/10/2010. Pronto. Estava aposentado! Incrivel, mas foi simples assim!!!

A partir de agora, apregoarei aos quatro cantos da terra que em Tremembé existe um profeta, e o seu nome é Rogério...

23 de mai. de 2011

Olesoxime: uma nova esperança para o tratamento da ELA


A Trophos,  uma empresa farmacêutica situada na França, iniciou um ensaio farmacoclínico Fase III com a droga Olesoxime na ELA. O estudo admitiu cerca de 512 pacientes em um período de 9 meses que se estendeu até o mês de março de 2010, e está previsto uma duração para o ensaio de 18 meses. O estudo está previsto para ser concluído no 4º trimestre do ano em curso, quando o desfecho dos endpoints primários e secundários deverão ser apresentados a comunidade médica internacional.
Segundo afirmou naquela oportunidade Damian Marron, um alto funcionário da Trophos, “a Ela precisa urgentemente de novos tratamentos que possam aumentar a sobrevida e melhorar as funções respiratória e muscular do paciente. Nós acreditamos que a Olesoxime poderá ser um novo e precioso medicamento para a comunidade de portadores de ELA e aguardamos com grande expectativa os resultados do ensaio para o 4º trimestre de 2011”, concluiu Damian.
O protocolo do estudo consiste em um ensaio clínico multicêntrico, duplo-cego, randomizado e placebo controlado, que está avaliando a eficácia e a segurança da Olesoxime na ELA cujos pacientes já tinham o diagnóstico entre 6 e 36 meses antes da admissão no estudo e que já eram tratados com Riluzol.
A Olesoxime está sendo administrada na dose de 330mg uma vez ao dia em cápsulas, e o Riluzol está sendo administrado em ambos os braços (os 2 subgrupos do estudo) em dose de 50mg 2 vezes ao dia. O estudo está sendo realizado em 15 centros europeus localizados na França, Alemanha, Reino Unido, Bélgica e Espanha.
O endpoint primário do estudo é a taxa de sobrevida global ao longo dos 18 meses. Já os endpoints secundários incluem a escala de avaliação funcional da ELA,o tempo de ventilação assistida, a função respiratória e a qualidade de vida. O estudo é patrocinado pela Trophos S.A. e está sendo conduzido por um consórcio de destacados investigadores clínicos europeus, que têm uma ampla experiência anterior em colaborar na realização de grandes ensaios clínicos multicêntricos no tratamento da ELA.
Portanto, este estudo clínico é parte de um projeto colaborativo de 3 anos chamado Mito Target. Mito Target é um projeto ambicioso que visa fornecer dados concretos para melhor compreender e explorar os indícios que ligam a disfunção mitocondrial com a disfunção neuronal culminando em doenças neurodegenerativas. A Comissão Européia fez uma doação de cerca de 6 milhões de euros para o Mito Target.  
Sabe-se que a Olesoxime tem uma importante ação inibitória nas mitocôndrias, bem como uma atividade neuroprotetora e neuroregenerativa.  Os estudos com a Olesoxime de Fase I em voluntários saudáveis foram concluídos com êxito, bem como os estudos de Fase Ib em pacientes com ELA. Esses ensaios clínicos demonstraram que o produto é bem tolerado e tem em excelente perfil de segurança. Esses estudos também mostraram que uma dose oral uma vez ao dia atinge a concentração necessária para exercer a sua eficácia, com base em modelos pré-clínicos. Estudos para avaliar a interação medicamentosa da Olesoxime com o Riluzol não demonstraram possíveis interações entre as 2 drogas.
Uma novidade muito interessante nesse projeto foi a criação do site www.mitotarget.eu pela Trophos e pelo consórcio Mito Target, que possui recurso multilíngüe, e pretende ser o primeiro ponto de contato disponível para todos os pacientes afetados pela ELA. Isso inclui todos os doentes e médicos, enfermeiros e especialistas, bem como o público em geral que possua um amigo ou membro da família com a doença. O site contem informações detalhadas sobre a ELA e assuntos relacionados, e abriga uma vasta gama de informações correlatas, que permite a todos os pacientes com ELA encontrar mais informações e apoio.
                                                                                    

14 de mai. de 2011

Filosofia de um chinês sem nome

                              
 "O anúncio...tinha...apenas os números 1363 e 2818 que eram referentes às caixas postais da empresa, para onde os currículos deveriam ser enviados.   Na segunda feira cedo estava eu lá fazendo meu lobby... Mas como eu consegui descobrir o nome e o endereço da empresa, se no anúncio havia apenas os nºs das caixas postais? "

                                                                                                                     Por Antonio Jorge de Melo
“O importante não é o fato em si, mas o que vem depois dele.” Ouvi essa frase pela primeira vez há alguns anos em uma palestra motivacional promovida por uma empresa onde eu atuava como Representante de Vendas. Lembro-me do lugar, foi no salão de convenções do Porto Real Resort, lá na bucólica cidade de Angra dos Reis, mas não me lembro do nome daquele chinês atarracadinho que chegou em uma reluzente Mercdez Benz verde para dar o seu recado para aquela ansiosa e inquieta tropa de vendedores, para nos ensinar a sua interessante filosofia.
A tese dele se baseava em uma história que ele narrava, onde o personagem da história sempre se deparava com alguma situação considerada trágica ou ruim, mas passado algum tempo, aquilo que parecia ser tão trágico e tão ruim se transformava em uma oportunidade para algo melhor, e o ciclo da história transcorria assim. No final, tudo dava certo.
 Falando de forma generalizada sobre esse tema, parece até aquelas célebres frases prontas que guardamos para certas ocasiões quando não sabemos exatamente o que falar, tipo: “Isso vai passar”; “Dias melhores virão”; “Deus escreve certo por linhas tortas”; “Nada como um dia após o outro”, etc. Mas após algumas reflexões a respeito da minha própria vida, posso concluir que, se o princípio filosófico daquele motivado e entusiasta chinês não é 100% eficaz, posso dizer que ele tem lá seu valor.
Lembro-me que no ano de 1989 passei pela pior crise da minha vida (pelo menos eu imaginava que fosse): fiquei desempregado numa época em que a inflação do Brasil chegava a 70% ao mês , minhas filhas tinham dois anos uma e meses a outra. Naquela época consegui superar minha dificuldade de conseguir um novo emprego adquirindo um veículo com o qual eu fazia transportes. No início foi difícil, mas seis meses depois eu já estava dominando a situação e me achando o cara...até que o veículo foi roubado!!! Como não tinha seguro...
Sem opção, comecei a comprar jornal aos domingos, coisa que eu não fazia antes por total falta de tempo e interesse (naquele tempo era assim que se procurava emprego), e por uma incrível sorte do destino (ou por um milagre Divino) encontrei um anúncio que pedia um Representante de Vendas para trabalhar na cidade de Volta Redonda, que por acaso era a cidade da minha esposa, mas naquele tempo nós morávamos na cidade do Rio de Janeiro. O anúncio não tinha endereço, nem o nome da empresa, apenas os números 1363 e 2818 que eram referentes às caixas postais da empresa, para onde os currículos deveriam ser enviados.   Na segunda feira cedo estava eu lá fazendo meu lobby nas dependências daquela empresa . Mas como eu consegui descobrir o nome e o endereço da empresa, se no anúncio havia apenas os nºs das caixas postais? Pois é, aqui começa uma nova história que vai de encontro aos princípios ensinados por aquele guru chinês.
Acontece que nos anos de 1974 a 1976 eu trabalhei como Office Boy em uma empresa, e uma das minhas funções ali era recolher duas vezes ao dia as correspondências das suas duas caixas postais dessa empresa. O tempo passou, mas aqueles nºs nunca saíram da minha lembrança.
 Assim, de repente, somente e apenas por causa de duas tragédias que se sucederam na minha vida (lembram que fiquei desempregado e seis meses depois meu ganha-pão foi roubado?), estava eu ali diante de uma oportunidade de trabalho que eu jamais imaginara que pudesse estar, com um salário que nunca havia ganho antes, e um monte de benefícios.  Assim, aos 30 anos de idade e sem nenhuma experiência anterior na área de vendas, dei início a uma nova e maravilhosa etapa da minha vida, e a uma linda carreira profissional que durou 20 anos, sendo interrompida em 2010 apenas por causa dela, a ELA. Durante esses 20 anos conquistei muitas coisas, e se hoje posso ter um pouco de tranqüilidade e oportunidade de cuidar da minha fragilizada saúde, devo a esses 20 anos em que atuei como Representante de Vendas em diversas empresas.
Então, como num flashback que me levou de volta ao passado, devo admitir que o chinês estava certo em seus ensinamentos. Como estou diante de um novo e terrível desafio, dessa vez envolvendo não questões financeiras ou de alto-realização, mas de saúde, torço para que a filosofia ensinada pelo Chinês dê certo novamente na minha vida. Isso me faz pensar não na doença em si, mas nas grandes oportunidades que terei depois... embora seja difícil para mim deslumbrá-las.

5 de mai. de 2011

Em busca do novo mundo (Parte 2)


                      

Por Antonio Jorge de melo
      Enquanto os portugueses exploravam a costa africana e descobriam o caminho para a Índia, os espanhóis, através de Cristóvão Colombo, chegavam à América (1492).
A audaciosa viagem de Colombo tinha por objetivo atingir a China através do Atlântico. Nesse sentido, a América era um obstáculo e, de imediato, não despertou interesse da Coroa espanhola. O mesmo aconteceu com o Brasil, em 1500, quando aqui chegou a esquadra de Pedro Álvares Cabral.
     Com a entrada em cena da Espanha, teve início uma disputa dos domínios de além-mar com Portugal. O acordo foi estabelecido com o Tratado de Tordesilhas (1494), que dividiu os domínios respectivos entre os dois Estados. Por esse motivo, resolveram procurar um novo caminho para as Índias, viajando pelo Oceano Atlântico, contornando o sul da África. Começou nesse período a época das Grandes Navegações. Contribuíram para o desenvolvimento das navegações a procura de um novo caminho para as Índias, e as invenções: caravela, bússola, astrolábio, pólvora, papel e imprensa.
     Algumas invenções contribuíram para o desenvolvimento do comércio, possibilitando a realização de longas viagens marítimas. Entre essas invenções, temos a bússola, as caravelas, o astrolábio, a pólvora, o papel e a imprensa. 
     Esse pequeno resumo sobre o o início das grandes navegações nos reporta a alguns pontos que merecem destaque. As grandes navegações expandiram os limites do mundo conhecido até então. Mares nunca antes navegados, terras, povos, flora e fauna começaram a ser descobertas pelos europeus. E muitas crenças passadas de geração a geração, foram conferidas, confirmadas, ou desmentidas. Eram crenças de que os oceanos eram povoados por animais gigantescos ou que em outros lugares habitavam seres estranhos e perigosos. Ou que a terra poderia acabar a qualquer momento no meio do oceano, o que faria os navios caírem no nada. O motivo poderoso que fez alguns europeus desafiar o desconhecido, enfrentando medo, foi a necessidade de encontrar um novo caminho para se chegar às regiões produtoras de especiarias, de sedas, de porcelana, de ouro, enfim, da riqueza.
     No dia em que fui diagnosticado como portador de ELA, a minha frágil e primitiva nau deu início a uma  uma longa e tenebrosa jornada marítima em busca de um  novo e desconhecido mundo. Não me faltaram pensamentos assombrosos sobre as serpentes do mar, animais gigantescos ou seres estranhos e perigosos, ou que a terra poderia acabar a qualquer momento no meio do oceano, o que faria minha nau sucumbir rapidamente.Tambem pensei nos temporais, nas calmarias, na solidão e no isolamento que esses mares me causariam. Pensei na fome e na sede, pensei na saudade, pensei na vida e na morte.   
      Passado  todo esse tempo desde que minha nau levantou âncoras e partiu de um porto aparentemente calmo e seguro aonde eu estava, vi que tudo era verdade. Não era lenda o que se falava a respeito desses mares. Nesse tempo tenho me deparado com serpentes do mar, animais gigantescos, seres estranhos e perigosos as vezes me assombram,  e meu mundo parece que vai acabar a qualquer momento no meio do oceano, e que  minha nau vai sucumbir rapidamente.Tambem tenho visto os  temporais solapando as águas, as calmarias enlouquecedoras, a solidão de um mar infinito e sem luar e o isolamento que esses mares me causam. Sinto fome e  sede, sinto tanta saudade do que eu fazia sem saber que eram coisas tão preciosas para mim. Penso na vida, penso na morte. Mas assim como está registrado na história das grandes navegações, almejo dia e noite para que a minha história também seja escrita com um final feliz, e tal qual aqueles corajosos e impetuosos navegadores, minha nau me levará a um lugar de águas mansas e cristalinas, um novo mundo onde  acharei riquezas, encontrarei ouro e especiarias que certamente darão  a minha vida um novo e melhor valor.







4 de mai. de 2011

Em busca do novo mundo (Parte 1)

      

         Por Antonio Jorge de Melo
<><><>
As grandes navegações tiveram início no século XV, sendo que naquela época, os europeus começaram a desenvolver o comércio entre a Europa e o Oriente (na Ásia, principalmente na região das índias), e os produtos de maior valor comercial na época eram as chamadas especiarias (cravo, canela, noz-mascada, gengibre), alem de sedas, porcelanas, tapetes, perfumes,  marfins, pedraspreciosas, etc.
De todas as especiarias existentes no Oriente e cobiçadas pelos europeus, nenhuma era mais importante e mais valiosa do que a pimenta. Hoje considerada mero condimento, a pimenta, nos séculos XVI e XVII, era artigo de fundamental importância na economia européia. Como não havia condições de se alimentar o gado durante o rigoroso inverno da Europa setentrial, a quase totalidade dos rebanhos era abatida por volta do mês de novembro. O sal era usado para preservar a carne por vários meses, mas a pimenta e, em menor escala, o cravo eram considerados imprescindíveis para tornar o sabor das conservas menos repulsivo.             Na Europa, o preço da pimenta era altíssimo e na Índia os hindus só aceitavam trocá-la por ouro. Os portugueses chegaram a trazer cerca de 30 mil quintais por ano (quase 2 mil toneladas ) de pimenta da Índia para Lisboa. Esses produtos eram originários da Índia, da China e do Ceilão, e chegavam às cidades de Alexandria e Constantinopla, trazidos pelos árabes.
Essas mercadorias eram comercializadas na Europa por preços muito elevados, pelos comerciantes italianos das cidades de Veneza e Gênova. Portugal e Espanha ambicionavam fazer esse comércio diretamente com as Índias, comprando os produtos e vendendo-os por preços elevados.
Desde a Antiguidade, a história do Ocidente esteve restrita à navegação no Mediterrâneo. No início da Idade Moderna,   o oceano Atlântico era totalmente desconhecido. 
A navegação limitava-se à região costeira da Europa: de Portugal aos países escandinavos- Dinamarca, Noruega e Suécia.
Devido aos altos riscos, a exploração do Atlântico não atraía investimentos particulares. Em conseqüência , a expansão só poderia ser feita com a iniciativa do Estado, pois era o único agente capaz de investir grandes recursos sem temer os prejuízos, já que esses recursos provinham da arrecadação de impostos em escala nacional. Daí a importância da centralização, sem a qual esse agente investidor da expansão marítima não existiria.
Na realidade, a constituição do Estado nacional ou a centralização política foi um pré-requisito da expansão. Assim, depois de Portugal, lançaram-se à expansão, sucessivamente, Espanha, Países Baixos, França e, finalmente, Inglaterra, à medida que lograram a centralização.
No caso de Portugal, deve-se mencionar ainda a importância da Escola de Sagres, dirigida pelo infante D. Henrique, o
Navegador. O Estado financiava as pesquisas e as viagens de exploração, estabelecendo, em compensação, o monopólio régio do ultramar.
(Continua...)


1 de mai. de 2011

Terapia com células tronco no Brasil: é chegada a hora?

           
 
Esse assunto deixou de ser uma discussão meramente acadêmica ou medico-científica e passa a ser uma questão humanitária.

Os pacientes brasileiros com Esclerose Lateral Amiotrófica e outras doenças do neurônio motor vivem hoje um grande dilema, pois os principais formadores de opinião do Brasil são unânimes em afirmar que ainda não chegou o momento da terapia com células tronco.  "Nós temos todas essas células aqui. Se achássemos que elas pudessem ajudar, seríamos os primeiros a oferecer o tratamento", afirma Mayana Zatz, do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP no Jornal da Ciência em sua edição de 10 de abril de 2011.  No mesmo artigo, o médico e secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde Reinaldo Guimarães afirma que "essas pessoas estão sendo 100% enganadas". Segundo ele, essas terapias não podem ser oferecidas no Brasil porque não há provas de que sejam eficientes ou seguras. Para isso, diz, ainda é preciso fazer muitos experimentos controlados em animais e seres humanos. "Não há dúvida de que as células-tronco têm grande potencial, mas o caminho para uma terapia é longo." Da mesma maneira, o médico Júlio Voltarelli, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, que pesquisa o potencial terapêutico das células-tronco, também condena as práticas chinesas. "Acredito, sim, que doenças como a esclerose lateral amiotrófica poderão um dia ser curadas com células-tronco, mas é algo que precisa ser testado", diz. "Não se pode vender isso como uma técnica comprovada."
Umas das principais alegações desses especialistas é que essas clínicas e hospitais chineses (são mais de 200 na China, segundo um levantamento recente feito por uma equipe canadense) “não seguem os protocolos básicos de pesquisa clínica nem publicam seus resultados em revistas científicas reconhecidas, simplesmente não há como saber. As clínicas não têm como provar que seus resultados são verdadeiros, e os críticos não têm como provar que eles são falsos. Fica tudo na boca dos pacientes - cujas experiências estão sujeitas a muitas subjetividades.”, afirma o artigo.
Indiferentes a todas essas alegações os pacientes que hoje tem o diagnóstico de ELA e outras DNM´s sabem muito bem que o tempo é um bem muito precioso, pois a doença tem um caráter progressivo e degenerativo, não havendo portanto nenhuma margem de negociação que permita ao doente aguardar pacientemente e despreocupado pelo “momento certo” de ser submetido a essa tão sonhada e esperada terapia experimental.
Diante de uma realidade cruel e sombria, os pacientes com ELA começam a questionar se, independente de quaisquer objeção sobejamente conhecida e discutida pelos pesquisadores, não valeria a pena tentar assumir certos riscos na esperança de se conseguir ao menos retardar o avanço da doença e o seu potencial destrutivo das funções motoras,  cujas conseqüências são avassaladoras para o paciente.
Esse assunto deixou de ser uma discussão meramente acadêmica ou medico-científica e passa a ser uma questão humanitária. Afinal, que esperança pode ter hoje um paciente com ELA, se a própria literatura médica lhe dá um prognóstico de 2 a 5 anos de vida, e sabe-se lá de que maneira, pois a medida que a doença evolui, o paciente vai perdendo paulatinamente toda a sua função motora, lhe restando ficar em cima de uma cama, e sendo necessário o auxílio de cuidadores para realizar as funções mais corriqueiras, como coçar a ponta do nariz, ou se alimentar.
Ainda há de se refletir se os métodos utilizados na China podem
realmente ser considerados impróprios ou inadequados simplesmente pelo fato deles não estarem submetidos aos critérios do FDA. Não queremos aqui fazer qualquer juízo de valor ou lançar dúvidas sobre a idoneidade do FDA, mas deve-se ter certos cuidados quando alguma entidade, líder ou nação assume a postura de absoluta “dona da verdade”, ignorando fatos que estão acontecendo no resto do mundo. A história é nossa testemunha das desastrosas conseqüências causadas por líderes, ideologias e ações totalitárias no mundo no curso de sua história.
Uma outra questão é bastante emblemática. Os interesses político-econômicos não devem ser desconsiderados.  Em um passado recente EUA e Rússia disputaram a hegemonia pela conquista da lua: venceu os EUA. Hoje a China desponta como uma nação que tem grandes chances de se tornar a primeira potência econômica mundial. Será que isso não estaria contrariando interesses, a China se tornar uma referência mundial no domínio da terapia com células tronco? São muitas as dúvidas, e poucas são as respostas concretas nesse campo ainda tão novo e cheio de surpresas para a pesquisa clínica.
Uma questão dessa magnitude que envolve o direito a vida, deveria ser priorizada em detrimento de interesses sócio-econômicos, políticos e seja lá mais o que for. Acredito que os políticos brasileiros da área de saúde, os Centros de Pesquisa, empresas de Biotecnologia e Entidades que reúnem os portadores da ELA e demais DNM´s deveriam sentar e discutir os benefícios e riscos de uma terapia com células tronco no momento atual. Ficar negando um fato que já é realidade em outros países é muito difícil para o entendimento do público leigo, e muito mais difícil para quem espera por um “milagre” da medicina, para quem simplesmente quer ter assegurado o seu direito a vida.
 Aqui no Brasil começam a pipocar relatos de brasileiros que foram submetidos a terapia com células tronco na China e Alemanha. É preciso ouvir essas pessoas que lá estiveram. Será que esses pacientes ficaram a mercê de profissionais desqualificados e inescrupulosos, verdadeiros curandeiros, ou foram atendidos por profissionais especializados  e inovadores, mas que vivem uma realidade diferente da Medicina Ocidental, e por isso estão sendo taxados de mercenários e exploradores da boa fé do paciente?
Mais do que fazer afirmações radicais  e preconceituosas e sem margem para reflexões, o que vale mesmo nesse momento é esgotar o assunto através do diálogo, do entendimento e da troca de idéias envolvendo todas as partes interessadas, principalmente o paciente e os seus cuidadores, que estão na “linha de frente” dessa difícil batalha. Sem sombra de dúvidas essa seria uma maneira inteligente e civilizada de se tentar chegar a um ponto de equilíbrio nessa  complexa e ainda controversa questão chamada terapia com células tronco.