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Em 2009 fui diagnosticado com uma doença do neurônio motor (DNM) Trata-se de uma doença neuromuscular, progressiva, degenerativa e sem cura. Mesmo assim insisto que vale a pena viver e lutar para que pesquisas, tratamentos paliativos, novos tratamentos cheguem ao Brasil no tempo + breve possível, alem do respeito no cumprimento dos nossos direitos. .

26 de jun. de 2011

Genoma Humano: o "Santo Graal" no diagnóstico das doenças neuromusculares.

Por Antonio Jorge de Melo                               
  
 "Ele preencheu uma papelada e me encaminhou para fazer um Genoma.  O exame consiste em coletar 10ml de sangue, acondiciona-lo em uma embalagem térmica e encaminha-lo para o Centro de Estudos do Genoma Humano em São Paulo através de Sedex. "         
                          
 
A literatura médica-científica confirma o que pude vivenciar na prática, que o diagnóstico da ELA em paciente que começou a desenvolver os primeiros sintomas é um achado que delonga tempo, e torna-se bem difícil para quem não é especialista, e mesmo para os que são pode ocorrer algum equívoco no fechamento do diagnóstico. Comigo foi assim.
Quando comecei a perceber certa dificuldade em andar, e uma espécie de “travamento” das pernas no nível da cintura, fui ao ortopedista, que de cara me mandou fazer uma Ressonância Magnética. Envolvido com as minhas atividades laborais, acabei não fazendo o exame sugerido pelo médico.
Tempos depois fui a outro ortopedista especialista em doenças da coluna vertebral, até porque o problema persistia. Este me indicou um rx com preparo. Após analisar aquela imagem e não achando nada, me indicou uma RM. Dessa vez eu fiz. Resultado: nada!!! Pra mim ficou claro que aquele médico não tinha a mínima noção do que estava ocorrendo comigo. Desisti também daquele profissional.
Passado um tempo, e o problema persistindo, fui por minha livre opção a um Neurologista. Achava que o cara fosse o melhor da minha cidade. Fiz uma consulta e uma Eletromeuromiografia com ele e... nada!!! Esse especialista sugeriu que eu pudesse estar sofrendo de “claudicação”, e me orientou a ir a um cirurgião vascular. Na consulta com esse novo especialista ficou constatado que não havia nada de claudicação!!! Ele ecomendou-me ir a um clínico, pois eu deveria estar com algum tipo de carência de vitaminas.
Cheguei a marcar a tal consulta com o Dr Rafael, um médico jovem e muito competente da histórica cidade de Petrópolis. Mas por motivos que não me lembro, acabei desmarcando a consulta.
O tempo passou, e já se iam quase uma ano desde que eu havia ido ao primeiro especialista, até que alguém me falou sobre um médico Neurologista que era ligado ao serviço de distúrbios do movimento do hospital Antonio Pedro, lá em Niterói. Peguei o tel do consultório do tal médico, marquei a consulta, e pra lá me dirigi cheio de esperança e otimismo de que dessa vez alguém iria me fazer um diagnóstico correto.
O médico demonstrou conhecimento das doenças neuromusculares (na época eu nem sabia o que isso significava).  Examinou-me, olhou tudo que eu tinha de exames complementares, falou de algumas patologias que eu poderia estar acometido, falou de Lou Ghering (eu não tinha a mínima idéia do que se tratava esse nome) e me recomendou uma nova Eletroneuro, só que com um especialista indicado por ele.
Ao fazer esse novo o exame, ficou claro pra mim que o protocolo seguido por aquele médico na realização daquele exame era completamente diferente do que eu já havia feito anteriormente. Senti-me mais confiante.
Ao retornar ao especialista, este finalmente me diagnosticou como portador de AME tipo 4 tardia.  Recomendou-me continuar o tratamento no serviço especializado do Hosp Antonio Pedro.
Vencidos os entraves burocráticos para ter acesso aquele serviço, fiz a primeira consulta com um médico residente acompanhado de um grande figurão da neurologia do Brasil. Ele preencheu uma papelada e me encaminhou para fazer um Genoma.  O exame consiste em coletar 10ml de sangue, acondiciona-lo em uma embalagem térmica e encaminha-lo para o Centro de Estudos do Genoma Humano em São Paulo através de Sedex. Cumprida essa etapa, fiquei aguardando o resultado.
Após uns 2 meses de espera e nada de resposta do resultado do exame, certo dia, enquanto navegava pelo site do CEGH me deparei com o e-mail de quem? Sim, a responsável por todo aquele serviço, Drª Mayana Zatz. Na mesma hora escrevi um e-mail relatando com detalhes toda a minha situação p/ ela. E qual não foi minha surpresa ao receber no dia seguinte uma resposta daquele Centro, e escrita pela própria Drª Mayana l!!!
O que se desvendou então foi que o médico (aquele figurão da neurologia que citei anteriormente), conforme relato do CEGH simplesmente não deu retorno às ligações e as mensagens de e-mail que aquele Centro enviou para ele, para que o resultado do meu Genoma fosse para ele enviado.
Percebendo a indiferença e a distância desse médico “ESTRELÃO”, fui orientado pelo próprio CEGH a buscar outro profissional para que o resultado do meu Genoma pudesse ser enviado, pois eles só enviam o resultasdo do exame para o médico responsável pelo paciente.  Imediatamente recorri a uma grande profissional da minha cidade, Dra Carla Jevoux. Quando falo grande, é sem exagero, trata-se de uma pessoa muito especial profissional e humanamente falando. Ela “comprou” a minha briga e finalmente o meu Genoma foi enviado. Para minha surpresa, o diagnóstico agora já não era mais AME4, mais sim Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), a mais terrível das doenças neuromusculares.
A partir daí, finalmente pude tomar um rumo certo no meu tratamento. A Lamotrigina (que por quase 3 meses fiz uso em vão) foi substituída pelo Riluzol, e acabei por tomar conhecimento do neurologista Dr Marco Chieia, com quem faço acompanhamento atualmente, alem do suporte sempre presente da Dra Carla, a quem sou muito grato por ter me ajudado a ter acesso ao meu diagnóstico.
Diante do que acima foi colocado, recomendo a todo paciente que seja portador de uma doença neuromuscular que converse com seu médico a respeito e faça também um exame de Genoma, é muito importante. Bom, pelo menos para mim foi... e muito.
  

14 de jun. de 2011

Muito alem do Riluzol

                                     

Pacientes aguardam com ansiedade por uma droga mais efetiva para o tratamento da Esclerose Lateral Amiotrófica.
                                                                         Por Antonio Jorge de Melo

É sagrado. Uma vez por mês minha esposa vai lá na Farmácia do Sus, pega uma senha, aguarda um pouquinho, e sai com a minha caixa de Rilutek. O local é organizado, limpo e iluminado, e os profissionais são educados e atenciosos.  Mas do que eu estou falando afinal? Sim, de um serviço público municipal, que funciona muito bem, acredite se quiser!

Mas infelizmente não há muito que se comemorar quando se pensa no fato de que o Riluzol ainda é a única droga no mercado farmacêutico mundial p/ tratamento da ELA. Não estou considerando tratamentos coadjuvantes ou alternativos.
Basta ler a bula ou conversar com um Neurologista que conheça a doença, que certamente chegaremos a conclusão de que há muito que se pesquisar e se descobrir acerca da etiopatogenia da ELA e de outras doenças neuromusculares, que são doenças extremamente invasivas e que afetam profundamente a qualidade de vida de quem as possui.  Logo, a inquietação e a ansiedade por uma terapia + eficaz é plenamente justificável nesses pacientes.  

Existem 2 drogas atualmente sendo alvo de pesquisa farmacoclínica:

1-Olesoxime
Trata-se de um estudo Fase III cuja avaliação clínica está sendo realizada em 15 centros médicos europeus envolvendo 512 pacientes, e deve ser encerrado agora no final de 2011, mas que de antemão os pesquisadores e especialistas já sabem que seus resultados não são promissores na indicação a qual o estudo está proposto, uma vez que ele se baseia no modelo da proteína SOD1, que antes se pensava ser um marcador biológico da doença e uma peça chave no entendimento dos mecanismos fisiopatológicos da ELA. Hoje sabe-se que não é bem assim.
2-Dexpramipexole
Trata-se de um estudo Fase III cuja avaliação clínica está em fase inicial (abril/2011), e será realizado em um total de 80 centros médicos em vários países envolvendo cerca de 804 pacientes, e terá uma duração de pelo menos 1 ano.

Segundo o Dr Miguel Mitne, "o potencial do Dexpramipexole tem sido amplamente divulgado. Nos estudos prévios, a droga apresentou propriedades neuroprotetoras em modelos in vitro e in vivo. Acredita-se que essa droga aumente o desempenho mitocrondrial, fundamental para sobrevivência dos neurônios motores. Nos estudos clínicos de fase I e II, mostrou-se que o tratamento com a droga apresenta uma tendência de redução da velocidade de progressão da doença e de aumento da sobrevivência."(www.todosporela.org.br)

Outra informação que tem gerado uma enorme expectativa em todos nós  são os estudos experimentais com células-tronco embrionárias e células-tronco  adultas. Por enquanto, segundo comenta o Neurologista Marco Chieia, chefe do ambulatório de doenças neuromusculares da UNIFESP, "a eficácia das células embrionárias com relação a DNM/ELA não existe, não temos se quer um trabalho bem desenhado com um número pequeno de pacientes em andamento que provou algum benefício. O que temos de relato em congressos e de alguns pesquisadores da área é que as células embrionárias por serem primitivas demais tem um potencial de diferenciação imenso e perigoso, podendo se transformar em qualquer coisa, inclusive em melanoma de pele, tumor cerebral, etc, motivo de abandono de algumas pesquisas ainda em laboratório nos EUA.

Com relação as células autólogas adultas já temos algumas respostas. Estas se diferenciam-se em neurônio motor, o tempo de sobrevivencia deste neuronio ainda é impreciso, mais grupo de pacientes que receberam injeções a nível da coluna cervical, de 10/6 reduziram a sua evolução no perído de acompanhamento de 1 ano. Posteriormente os dados precisam ser mais estudados(trabalho italiano). Outros centros mais recentemente tem estudado maneiras mais produtivas do neurônio sobreviver, falta sabermos como viabilizarmos o fator de crescimento junto com cels tronco. Além disto a nanotecnologia tem sido utilizada como vector destas substâncias.
Os centros que atualmente fazem os transplante destas celulas não aplicam estas tecnologias e a chance de resultado positivo torna-se menor."  
Por fim, podemos dizer que todos nós pacientes de ELA, é como se estivéssemos em uma  estação à espera de um trem, ansiosos para que ele chegue e nós finalmente possamos embarcar em uma tão sonhada e esperançosa viagem rumo a um destino onde nos espera uma melhor efetividade no tratamento dessa terrivel doença, bem como o direito de viver, mais e melhor.

MATÉRIA Nº3 - Neurônio produzido in vitro não funciona



                      Células derivadas da medula óssea são incapazes de transmitir impulso

 "Parece neurônio, mas não é." Essa, talvez, seja a melhor maneira de resumir o resultado de uma pesquisa brasileira publicada na revista PLoS One. Os cientistas analisaram a funcionalidade de células neurais geradas pela diferenciação de células-tronco da medula óssea de ratos e descobriram que, apesar de se parecerem muito com neurônios - e serem tratadas como tal -, elas não são células funcionais. Por exemplo, são incapazes de transmitir sinais elétricos, uma característica básica de qualquer neurônio. "Elas têm cara de neurônio, têm cheiro de neurônio, mas certamente não são neurônios", diz o pesquisador Luiz Eugênio Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os resultados, segundo ele, têm implicações importantes sobre o potencial terapêutico das células-tronco em geral.
 A pesquisa foi feita com células-tronco mesenquimais, um tipo presente na medula óssea que dá origem a ossos e cartilagem. Vários estudos publicados nos últimos anos sugerem que essas células podem também se transformar em neurônios, se expostas a certos fatores químicos in vitro.
De fato, à primeira vista, as células assumem uma morfologia muito parecida com a de neurônios e até expressam proteínas típicas de células neuronais. Isso não significa, porém, que sejam capazes de funcionar como neurônios.
A equipe brasileira resolveu tirar a prova com células-tronco mesenquimais da medula óssea de ratos. Utilizando um protocolo padrão de diferenciação desenvolvido em 2000 e adotado por vários laboratórios no mundo, os cientistas produziram "neurônios" de células mesenquimais e testaram sua funcionalidade, comparando-as a neurônios "de verdade". A principal falha detectada foi a incapacidade de produzir potenciais de ação - nome dado aos impulsos elétricos pelos quais os neurônios transmitem informações. "Uma célula que não produz potenciais de ação não pode funcionar como um neurônio", afirma Mello. Segundo ele, as substâncias químicas usadas para induzir a diferenciação in vitro danificam as células. Cerca de 50% delas morrem após 24 horas de cultivo. "Não é que não seja possível produzir neurônios de células mesenquimais, mas é preciso um cuidado maior na hora de interpretar os resultados", diz a biomédica Gabriela Barnabé, do Laboratório de Neurofisiologia da Unifesp.
 Implicações
Apesar de ter sido feito só com células de rato, é muito provável que os resultados do estudo se apliquem também às células-tronco mesenquimais humanas, já que os protocolos de diferenciação são bastante semelhantes, segundo a pesquisadora Rosália Mendez-Otero, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Isso não significa, porém, que elas não tenham utilidade clínica. "As células-tronco mesenquimais certamente têm um potencial terapêutico importante, mas não é porque viram neurônios", afirma Rosália, que também assina o estudo na PLoS One. Segundo ela, os efeitos terapêuticos observados em vários estudos com animais e seres humanos devem-se, mais provavelmente, a um efeito de modulação do processo inflamatório.
Os "neurônios" obtidos das células mesenquimais estariam atuando como "enfermeiras" celulares, secretando moléculas que combatem a inflamação e ajudando o tecido danificado a se recuperar. Fazer essa diferenciação é crucial, explica Rosália, para saber em que casos as células-tronco mesenquimais podem ser úteis ou não.
 No caso de um acidente vascular cerebral (AVC, ou derrame), elas seriam úteis apenas na fase aguda da lesão, para combater a inflamação, mas não na fase crônica, já que não têm a capacidade de formar novos neurônios. "O racional da terapia muda", conclui a cientista.
Fonte: Jornal da Ciência

13 de jun. de 2011

MATÉRIA Nº2 - Transdiferenciação: como fazer um neurônio?

                                                              
Uma das grandes limitações das células-tronco adultas é a sua incapacidade de formar neurônios. Elas conseguem se diferenciar em células musculares, adiposas, ósseas, cartilagens e até células nervosas com aspecto de neurônios mas que infelizmente não são funcionais. Não transmitem o impulso elétrico. Esse foi um dos principais motivos que nos levou a lutar para ter a permissão de poder pesquisar as células-tronco embrionárias (CTE), pois elas, sim, conseguem formar todos os tecidos inclusive neurônios. Quando surgiram as células IPS (induced pluripotent stem cells) muitos acharam que o problema estava resolvido. Bastava reprogramá-las para que voltassem ao estágio comparável ao das CTE e então elas poderiam formar neurônios funcionais. Entretanto, artigos mais recentes vem mostrando vários problemas com as células reprogramadas IPS.
Como contorná-los?
É o que mostra um artigo recente publicado na revista Nature (maio de 2011). Um grupo de pesquisadores da Califórnia conseguiu induzir fibroblastos (células que originam a pele) a se diferenciar diretamente em neurônios sem ter que passar por todo o processo de reprogramação.
O processo chama-se transdiferenciação
Como a própria palavra diz, trata-se de transformar um tipo celular em outro sem ter que voltar ao estágio de CTE pluripotente – com o potencial de formar todos os tecidos. Trabalhos recentes mostraram que fibroblastos são capazes de se diferenciar em células cardíacas, sanguíneas e hepáticas. Mas ainda não haviam conseguido neurônios funcionais. No ano passado um grupo de pesquisadores, liderados pelo Dr. Marius Wernig, conseguiram isso, pela primeira vez, em camundongos: transformar fibroblastos em células nervosas capazes de transmitir impulsos elétricos. Ficaram entusiasmados com os resultados e resolveram tentar repetir esse feito com células humanas.
Como foram feitos os experimentos com células humanas?
Os primeiros experimentos foram feitos com fibroblastos obtidos de linhagens fetais. Depois de várias tentativas e erros, eles verificaram que a combinação de quatro fatores – quando introduzidos nas culturas de fibroblastos através de um vírus específico ( lentivirus) fizeram que eles se diferenciassem em neurônios funcionais – repito, capazes de transmitir impulsos elétricos. Além disso, vários deles foram capazes de formar sinapses – conexões entre os vários neurônios. O próximo passo foi verificar se eles conseguiam os mesmos resultados com fibroblastos obtidos de recém-nascidos. Para isso repetiram o experimento com células obtidas do prepúcio ( coletadas durante a circuncisão). Os resultados foram muito semelhantes, o que é uma excelente notícia.
Quais são os próximos passos?
Esses células “transdiferenciadas” aparentemente teriam menos chance de formar tumores o que é uma vantagem. Mas, de acordo com o Dr. Wernig, a eficiencia é ainda baixa. Somente 2 a 4% dos fibroblastos se diferenciaram em neuronios, bem abaixo do que a equipe deles tinha observado com células de camundongos ( cerca de 8%). Além disso, os neurônios parecem ser relativamente imaturos e talvez eles não reproduzam o que ocorre em células nervosas de pessoas com doenças neurológicas de início tardio como a doença de Parkinson ou Alzheimer. Só saberemos quando compararmos essa tecnologia com neurônios formados a partir de células embrionárias e células IPS.
De qualquer modo, se esse procedimento for confirmado por outros grupos será mais um passo para facilitar a compreensão e futuro tratamento de muitas doenças neurológicas e neuromusculares ou patologias que dependem da regeneração de neurônios. Vale a pena investir nessa tecnologia.
Por Mayana Zatz

ANTONIO JORGE DE MELO                                                                                               10/06/2011 às 11:32  
Isso significa que os estudos com células-tronco autólogas adultas em doenças neuromusculares são inviaveis?

Mayana Zatz                                                                                                                                 10/06/2011 às 21:07 
Antonio Jorge
Em doença genética o transplante autólogo não funciona porque todas as células terão o mesmo defeito. Mas estamos tendo resultados muito interessantes em animais quando transplantamos células humanas. Isso sugere fortemente que talvez seja viável transplantar células-tronco de diferentes pessoas.
Grande abraço

12 de jun. de 2011

MATÉRIA Nº1 - Células-tronco reprogramadas são rejeitadas


Depois da pesquisa sobre células adultas – como as da pele (fibroblastos) – que podem ser retiradas e  reprogramadas para se comportarem como células-tronco embrionárias, surgem novos estudos mostrando obstáculos ao seu uso na terapia celular. Primeiro foram trabalhos mostrando que elas guardam “memória” de onde foram retiradas. Agora uma nova pesquisa  realizada em camundongos, publicada na revista Nature , revela que elas também podem ser  rejeitadas quando reinjetadas no mesmo animal de onde foram retiradas.
Células reprogramadas ou IPS (do inglês induced reprogrammed stem cells) são uma excelente ferramenta para entender mecanismos patológicos e pesquisar novos tratamentos
Recordando, essas células que podem ser retiradas teoricamente  de vários tecidos adultos podem – através da ativação de alguns genes específicos – voltar a se comportar como embrionárias. Assim tornam-se capazes de se diferenciar em qualquer tipo celular, como o cardíaco, músculo, gordura, osso ou células nervosas.
Desde a sua descoberta imaginava-se que seriam ótimas para pesquisas.  De fato são. Vários trabalhos já foram publicados mostrando que é possível reprogramar células de pacientes com diferentes doenças, gerar linhagens celulares, e testar diferentes abordagens terapêuticas para tratar aquela doença. Esse potencial das células IPS é incontestável.
Perdoam, mas não esquecem
A grande questão levantada desde a descoberta  das células IPS é se elas algum dia poderiam ser usadas para terapia celular, isto é, para substituir células ou tecidos lesionados. Apesar de ser muito semelhantes às células embrionárias, capazes realmente de formar qualquer tecido (que é a vocação natural das células-tronco embrionárias) uma primeira pesquisa mostrando que elas guardam uma “memória” de onde foram retiradas e “preferem” se diferenciar naquele tecido- foi publicada em setembro de 2010  pelo grupo do George Daley. Outras pesquisas publicadas  recentemente (Nature cell biology, maio de 2011) confirmaram esse achado e por isso brincam que elas “perdoam, mas não esquecem”.
A novidade é a rejeição
Uma nova pesquisa que acaba de ser publicada na revista Nature, liderada pelo Dr. Xu, mostrou que células IPS retiradas de camundongos foram rejeitadas quando reimplantadas em animais com a mesma constituição genética. Normalmente as verdadeiras células-tronco embrionárias, quando injetadas em camundongos formam um tipo especial de tumor, chamado de teratoma.
A presença do teratoma é a prova que as células injetadas são realmente pluripotentes, isto é, capazes de formar qualquer tecido. Entretanto, essas células IPS de camundongos, quando reinjetadas, ou não formaram teratomas ou formaram alguns que foram rejeitados pelo animal receptor.  Descobriu-se que os teratomas estavam expressando genes que provocavam  uma resposta imune.
Um balde de água fria?
Para aqueles que achavam que era possível reinjetar células-tronco derivadas das IPS,  sem preocupação com o problema da rejeição, desde que fossem retiradas da mesma pessoa, foi um balde de água fria. Mas na realidade o quadro não é tão negro assim. Talvez seja possível controlar esses genes que provocaram a resposta imune. Ou então administrar drogas imunosupressoras para evitar a rejeição. Mas o fato é que serão necessárias mais pesquisas antes de poder saber se células IPS poderão ser usadas para terapia celular. A boa notícia é que elas têm nos ajudado muito a entender os mecanismos que causam diferentes doenças genéticas abrindo novos caminhos para seu tratamento. E que outras células-tronco adultas estão sendo testadas com resultados promissores em modelos animais.
Por Mayana Zatz

Terapia com células-tronco...mas quando???

                     

A terapia com células-tronco tornou-se para mim nos dias de hoje um assunto intrigante, envolvente, prioritário, e sem querer ser exagerado, uma obstinação. Simples, é que o futuro do tratamento e até mesmo da cura das diversas doenças neuromusculares (inclua-se aí a ELA!) está na terapia com células-tronco.
A única dúvida é... quando??? Isso nos faz lembrar uma MPB que diz:

“Mas quando será, quando será, o dia da minha sorte?
Sei que antes da minha morte, eu sei que esse dia chegará

 Para mim, e acredito que para tantos pacientes, familiares, cuidadores e profissionais de saúde, o melhor caminho é nunca deixar de renovarmos a nossa esperança de que esse dia não esteja tão longe (como escreveu o poeta), até porque muitos de nós estamos numa avassaladora luta contra o tempo, não temos que pensar diferente, mas sim torcer para que todas as barreiras existentes que ainda emperram o desenvolvimento das pesquisas, principalmente com células-tronco embrionárias, onde ainda há questões éticas e religiosas a serem debatidas sejam equacionadas.
Pensando na importância do assunto, separei para postar em meu Blog 3 matérias  que remetem ao mesmo tema central: terapia com células-tronco. Trata-se de 3  publicações recentes que trazem informações correlatas muito importantes e esclarecedoras para quem busca um melhor entendimento sobre o assunto. Falar sobre a idoneidade dos autores dos artigos é totalmente dispensável.
Boa leitura!

7 de jun. de 2011

ELA me aposentou por invalidez...



                                                                                                     Por Antonio Jorge de Melo

“Jorge, você precisa parar...” Gelei de cima em baixo, quando o Dr Marco Chieia, Neurologista que acompanha o meu caso me disse isso. Era outubro de 2009, eu estava no seu consultório em s Paulo. Lembro-me como se fosse hoje. Acontece que a ficha ainda não havia caído, e eu prontamente disse a ele que não, que eu iria negociar com a empresa uma forma de eu continuar trabalhando sem ter que empreender grandes esforços. Ele, do alto da sua sabedoria e fleuma digna de um “monge do Tibet”, prontamente acatou a minha decisão.
Por incrível que possa parecer, a empresa concordou com a minha proposta. Parei de viajar, não fui mais cobrado em relação a uma meta mínima diária de produtividade. Enfim, o negócio tava bom até demais.
No início do ano seguinte, após as férias coletivas, precisamente no mês de março de 2010 chamei minha gerente e expliquei que mesmo daquela maneira estava muito difícil para eu continuar com minha atividade laboral. Alguns dias depois o RH me convidou a fazer uma perícia no INSS de minha cidade. Ansioso feito noivo na véspera do casamento, para lá me dirigi, e após uma anamnese seguida de muito papo e consulta ao colega ao lado, o médico perito me concedeu o auxílio-doença, e remarcou uma nova perícia para o dia 09 de outubro de 2010.
Passado esse tempo, lá estava eu de novo, agora nem tanto ansioso, mas curioso em saber no que daria tudo aquilo. Fui atendido por uma perita, rosto de menina, que me pareceu não ter nenhum conhecimento de doenças neuromusculares. Chegou a me propor o retorno a uma atividade laboral tipo “ensinar”. Ela descobriu uma nova vocação em mim que eu mesmo desconhecia... que legal!!! Não satisfeita com a proposta a mim lançada, também se referiu a minha protuberância abdominal somada a uns “quilinhos” a mais pelo codinome “forma de barril”, e me pediu que andasse sem a Emanuelle (a minha inseparável muleta canadense, sem a qual andar é um verdadeiro martírio), e chegou a perguntar se eu a usava apenas para prevenir o desequilíbrio... Ah!!!   Não teve jeito, fui obrigado a dar umas explicações sobre a etiopatogenia da ELA para aquela perita.
Saí de lá com a convicção de que eu nunca seria aposentado por invalidez. Nem mesmo data de retorno a perita marcou. Fiquei arrasado, chateado e desanimado com tudo aquilo.
Pois bem, o tempo passou, e agora no mês de maio último, após ter recebido alguns conselhos de um amigo que tem Esclerose Múltipla e já é aposentado por invalidez há bastante tempo, no dia seguinte fui ao INSS saber as quantas andava o meu processo. Claro, não consegui descobrir nada!  Voltei na parte da tarde daquele mesmo dia para falar com o chefe do setor onde tramitam os processos, e para minha grande surpresa fiquei sabendo que o meu processo estava deferido desde o dia 19 de outubro, apenas alguns dias depois daquela perícia que julguei ter sido a minha derrota na conquista da minha aposentadoria por invalidez.
Mas porque o INSS não me comunicou isso? Sabe-se lá por quais “forças ocultas” (como disse certa vez o saudoso Jânio Quadros quando indagado sobre as motivações de sua renúncia a Presidência da República) eles não me comunicaram o tal deferimento.  
De posse daquele documento sagrado, fui até um outro setor do INSS e protocolei o meu pedido de aposentadoria, e na mesma oportunidade já requeri os 25% adicionais que todo aposentado por invalidez tem direito, quando ele depende de um cuidador.
Que maravilha, agora estou aposentado por invalidez! Vou receber o meu primeiro “faz-me rir” agora dia 21 de junho, e com certeza terei argumentos para contar uma nova história. 
       
Eu, Sônia e a Emanuelle (minha inseparavel bengala canadense)



Eu com Dr Marco: paciência e fleuma digna de um "monge Tibetano"


 Drª Carla Jevoux, que preencheu meu atestado de afastamento laborial